Autor(a): Andreia Fernandes
''Somos espantalhos de nós mesmos... [...] Precisamos nos defender dos pássaros agourentos que vêm nos devorar as estranhas...''
Olá, gente! Estou voltando essa semana com mais uma resenha. Dessa vez, do livro ''A borboleta, o sonho e o corvo'', da autora parceira aqui do blog Andreia Fernandes.
Para começar essa resenha, não vejo outra maneira do que dizer logo de cara que essa é uma leitura que você precisa fazer com calma. Isso mesmo! É uma obra que você precisa parar, focar e se concentrar por completo em cada mínimo detalhe, porque um trecho que passar despercebido pode fazer muita diferença. Então, desde início, sigam atentos!
A obra traz a narrativa de três personagens, o Santiago, a Teresa e o Rogério, que, de alguma maneira, possuem suas vidas entrelaçadas. Antes de adentrar mais na história, é importante saber um pouco sobre cada personagem.
Pois bem, a princípio, falaremos da Teresa, uma mulher que passou um tempo morando fora do Brasil e teve sua vida colocada de cabeça pra baixo ao descobrir que os atestados de óbito dos seus pais foram falsificados. Sendo pega de surpresa, não é de se espantar a indignação que toma conta de si ao ver que não tinha conhecimento de algo de tamanha magnitude. Falar dela e não destacar a sua amiga Margot é impossível, uma pessoa de alto astral que tem participação significativa na história.
Rogério, por sua vez, é um médico misterioso, assinou tantos atestados de óbitos falsos durante o período da ditadura militar que agora não consegue mais viver tranquilamente. O seu passado obscuro lhe atormenta e martiriza a cada dia, não é fácil ignorar tudo o que fez e deixar isso guardado numa gaveta. Afinal, os problemas martelam e sempre estão dispostos a perturbar.
A outra narrativa é a de Santiago, um advogado frustrado com a própria profissão e acrescento que até mesmo com a própria vida, de um modo geral. Resolvi deixar para apresentar ele por último porque sinto que é o personagem que mais se destaca nessa trama e há, portanto, mais pontos a serem debatidos. Em suma, todos os personagens têm que lidar com o seu próprio martírio e esse sentimento de angústia, caos e confusão mental é passado com muita precisão pela autora.
- E quem é você para vir falar de buraco negro? - Seu amigo. O olhar de Vinícius antes de virar as costas e ir embora. Uma fisgada. Uma flecha envenenada. Direto no coração. Desde esse dia, não se falaram mais.
Santiago começa a ter visões de tragédias e acha que está enlouquecendo. Do nada, tudo vai ficando estranho e o personagem fica completamente desnorteado. Em razão disso, ele passa a subestimar sua própria mente com cada vez mais frequência, porque nada do que via parecia ter um sentido lógico. Entretanto, como explicar quando a primeira visão se tornou real? Coincidência? Mas o que fazer quando outra visão também se concretiza?
O leitor é envolvido por todas essas preocupações que passam pela cabeça do Santiago e, muitas vezes, também se sente tão perdido quanto ele. A autora trabalhou muito bem na construção dos personagens, a frisar, do Santiago, e isso faz com que compreendamos a perspectiva dele sobre os acontecimentos. Outrossim, as passagens de tempo, ora passado, ora presente, não confundem a mente do leitor, esse desenvolvimento foi pensado de forma inteligente. Entretanto, ainda friso, você precisa estar sempre atento ou vai ficar sem compreender os detalhes.
''Às vezes, me sinto no epicentro de um terremoto. Ou no meio de um rodamoinho. A qualquer momento serei arrastada para abismos.''
Discordo com muitas coisas faladas pelo personagem acerca da sua profissão. Também sou advogada e a concepção que tive é que ele não aceita lidar com as consequências de coisas que foram da sua própria escolha. Além disso, nós temos que ser a mudança que queremos. Santiago se frustra com tudo e todos, e as pessoas também se frustram com determinados comportamentos dele, mas isso não é algo que ele pensa. A mencionar, por exemplo, o fato de estar com a pensão alimentícia de suas filhas atrasadas por três meses. Ele, como advogado, deveria saber o quanto isso é prejudicial pra elas e o que isso acarreta, juridicamente. Que feio, doutor! (falo já sabendo que ele reprova esse vocativo também).
Tem dificuldade para se mover. Tudo escurece. E uma borboleta voa no meio ao breu. Azul.
A autora trabalhou o enredo com muita técnica e perspicácia. Compreender como a vida dessas três pessoas tão distintas estão ligadas é algo que você só conseguirá fazer lendo o livro. A confusão acarretada pelas visões é tanta que até o leitor fica tentando entender o que está acontecendo. Uma palavra define o desfecho: surpreendente. Eles nos pega realmente de surpresa. Eu senti falta de mais algumas páginas para explicar a situação, acho que isso deixaria a trama bem fechadinha.
O livro embora esteja no gênero romance, eu acho que vai mais para um suspense, porque a gente fica o tempo todo querendo saber o que vai acontecer. Agora me digam, já conheciam essa obra?
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Beijos!